101 dias em Bagdá desvenda o antes, durante e pós-guerra no Iraque


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O livro “101 dias em Bagdá” é uma daquelas obras que tira o nosso fôlego e nos projeta para o tempo e espaço relatados.

Então, para apresentar este fascinante livro farei um post diferente: utilizarei a técnica jornalística de construção do Lead, que consiste em seis perguntas básicas que devem ser respondidas na elaboração de uma matéria, são elas: “O quê?”, “Quem?”, “Quando?”, “Onde?”, “Como?” e “Por que?”. Com elas é possível, de início, fornecer as principais informações ao leitor de forma concisa.

De posse desta teoria tentarei transmitir o máximo de informações sobre o instigante livro “101 dias em Bagdá”.

O quê? – o fato ocorrido:

Åsne Seierstad relatou em “101 dias em Bagdá” suas experiências jornalísticas antes, durante e depois dos ataques americanos ao Iraque.

No Prólogo Asne explica que “A guerra raras vezes pode ser captada na sua totalidade ou entendida plenamente pela reportagem de momento. Assim como uma rigorosa análise política não pode expressar a tragédia de ver um filho morto por um míssil”.

No livro ela faz um relato comovente da ditadura imposta por Saddam Hussein; o massacre promovido pelas tropas norte-americanas durante a guerra, que não poupou nem os civis e a tragédia vivida pela população pós-guerra, que esperava a desocupação do território e a tão sonhada liberdade prometida pelo governo dos EUA.

Quem? – o personagem envolvido:

Escrito pela jornalista norueguesa Åsne Seierstad, nascida em 1970. Autora da obra “O Livreiro de Cabul” e correspondente de guerra desde 1994, cobrindo diversos confrontos internacionais para os meios de comunicação escandivanos, holandeses e alemães, que lhe renderam importantes prêmios.

A jornalista não poupou adjetivos para descrever o governo iraquiano e sua política extremamente repressiva, colhendo informações da população que mesmo sem dizer muitas palavras, com gestos, posturas e olhares denunciavam a dolorosa situação vivida.

Nesta pergunta também cabe dizer também que o quem refere-se ao povo iraquiano, personagem protagonista do livro.

Onde e quando? – o local e o momento do fato:

Åsne Seierstad esteve em Bagdá, capital do Iraque, para cobrir o confronto armado entre as duas nações, EUA x Iraque, entre janeiro e abril de 2003, ou seja, por 101 dias. Daí o nome “101 dias em Bagdá”.

Por que? – a causa do fato:

Nesse  tópico eu poderia tentar explicar a causa da guerra entre os dois países. Mas o relato seria longo e não é o objetivo deste post. Então, lhe darei três motivos tirados dos relatos do próprio livro e, com isso, espero convencê-lo do porquê você deve ler “101 dias em Bagdá”.

O primeiro relato está na voz da própria autora ao explicar que:

“Não existe verdade absoluta sobre a guerra do Iraque. Ou melhor, há milhões de relato verdadeiros e, possivelmente, um igual número de mentiras. A minha tarefa, como jornalista em pleno caos bélico, não foi julgar, prever ou analisar; mas sim olhar, perguntar e contar. A minha maior vantagem foi estar ali, com meus olhos e ouvidos”. (Prólogo).

O segundo relato é uma descrição do conflito armado:

“Do quarto ao lado chegam fortes gritos e leves reclamações. Os gritos vêm de Warda, uma menina de 12 anos. As suas pernas ficaram cheias de estilhaços e levaram horas para tirá-los; agora é preciso limpar as feridas. Arde, e a menina geme e esperneia desesperadamente, enquanto os médicos seguram as suas pernas. A menina chora de dor.

Na cama ao lado está a tia de Warda,  Hanan, que dará à luz dentro de um mês. Tem uma perna esmagada, mas os médicos não querem lhe dar analgésicos, porque podem prejudicar o bebê. Hanan se contorce com dores, revira os olhos e as lágrimas inundam o seu rosto. A camisola está ensopada.

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– Ai, dói muito, dói muito! – grita.

Os gritos da mulher grávida são abafados por um grupo barulhento que entra no quarto. São enfermeiras e auxiliares entoando slogans de punhos erguidos. “Saddam Hussein, o seu nome é honra. Saddam Hussein, um dedo da sua mão vale mais que os EUA”, gritam as mulheres que começam a dançar, sapateando e batendo palmas. Os pacientes em melhor estado de saúde unem-se ao coro e fazem gestos ameaçadores com os punhos. A rádio estatal está de visita. Um homem segura um grande microfone para gravar os slogans e entrevista pacientes e equipe médica sobre a guerra, Saddam Hussein e os Estados Unidos. Alguns pacientes viram a cara quando o homem da rádio não os vê. Entreolham-se com expressões vazias, são as primeiras vítimas da guerra”. (pgs. 218-219)

E por último, um relato surpreendente sobre o real motivo da guerra:

“Não tenho certeza de que esta guerra seja justa – confessou. – Estive pensando, no deserto, no que estamos fazendo. Sou contra o terrorismo, obviamente, mas o que esses iraquianos têm a ver com o terrorismo? – disse e olhou as câmeras que estavam em cima do concreto. – Acho que tudo isto é por causa do petróleo. Já viu o caos? O único ministério que protegemos é o do Petróleo. Os outros são saqueados e queimados. Quando saímos para patrulhar, vejo que a população está mais hostil a nós. Já não somos bem-vindos. E você o que acha?

– Bom, o que ouço os iraquianos dizerem é que esperam que vocês não fiquem aqui por muito tempo.

– Isso é o que também espero – suspirou o jovem soldado. – I want to go home. Quero sair do exército. Alistar-me foi a maior estupidez que já fiz na minha vida”. (pgs. 375-376)

Com esses três motivos, espero convencê-lo a conhecer a intrigante história do povo iraquiano em “101 dias em Bagdá”, que sob o olhar de Åsne Seierstad apresenta uma nação marcada pela contradição socioeconômica: concentração de riqueza, poder e repressão pelo governo e miséria, abandono e medo da parte da população. E, independente da situação conflitante, o povo continuava mantendo um alto grau de convicção e fé no Islamismo; desavenças com os católicos e judeus e adoração ao Saddam Hussein – considerado o senhor de todas as coisas e dono de todos, um legítimo faraó.

Como? – o modo como o fato ocorreu:

Aqui darei dois exemplos: “como o livro ocorreu” e “como a guerra aconteceu”.

Segundo sinopse da Editora Record o livro ocorreu: “Da mesma forma que em “O livreiro de Cabul”, desde o momento em que chegou a Bagdá; com um visto de dez dias, a autora  estava determinada a descobrir os novos segredos daquela terra antiga e a conhecer as condições reais de vida dos iraquianos. “101 dias em Bagdá” apresenta ao leitor a vida cotidiana sob a constante ameaça de ataques — primeiro do governo iraquiano e depois dos bombardeios americanos. Passando do silêncio ensurdecedor da era de Saddam Hussein às explosões que interromperam o fornecimento de eletricidade, água e outros serviços essenciais no país, Seierstad revela o que acontece às pessoas diante de situações-limite: do que sentem mais falta quando seu mundo se transforma num campo de guerra? O que denunciam quando não há; censura?. A autora traz à vida um elenco de personagens inesquecíveis – o burocrata responsável pelo atendimento aos jornalistas estrangeiros, Uday al-Tay; Zahra, mãe de três filhos; Aliya, guia e intérprete que se tornou amigo. Ao confiar em uma mulher européia sem roteiro preestabelecido, esses e outros iraquianos desabafam e narram acontecimentos jamais reportados nos jornais e redes de televisão”.

E por fim, como a guerra ocorreu: acredito que, assim como todas as outras guerras de que temos notícias, o conflito armado entre EUA x Iraque é fruto da disputa de poder e dominação entre duas nações, ou seja, para ser mais realista, de petróleo.

Neste caso, utilizarei mais um trecho interessante do livro e que explica bem essa minha opinião porque diz respeito à situação financeira do país frente à ameaça de eclosão da guerra:

“– A não ser que a guerra se prolongue – prognostica um corretor que viveu 14 anos em Londres, onde se doutorou em economia. – Londres é a minha outra casa – afirma sem deixar por isso de se gabar da resistência dos iraquianos. – Temos 250 mil soldados a ameaçarem as nossas fronteiras e, em vez de fugir, as pessoas investem na bolsa. É impressionante, não acha? Que venham os norte-americanos, se o que querem não é outra coisa senão as nossas riquezas – diz com o seu educado sotaque londrino”. (pg. 54).

Para finalizar, digo que “101 dias em Bagdá” é um livro que desperta reflexões sobre o universo do Islamismo e, principalmente, o regime de cerca de 25 anos de Saddam Hussein, além de nos ajudar a buscar maneiras de entender e também questionar as ações político-econômicas das nações dominantes, no caso os EUA. Bem como, analisar o valor das liberdades de imprensa e de expressão, da democracia e a importância da reportagem jornalística numa situação crítica onde o mundo espera notícias de tragédias anunciadas.

101 dias em Bagdá

Editora: Record

Ano: 2006

Páginas: 383

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