[Resenha] A vida que ninguém vê – Eliane Brum


“A vida que ninguém vê” é um livro que te prende do começo ao fim. A cada página virada os personagens saltam da folha e te convidam a apreciar histórias comoventes do cotidiano. No livro a documentarista, jornalista e escritora Eliane Brum apresenta uma seleção de crônicas sobre pessoas anônimas que têm histórias fantásticas que não são contadas nas páginas dos jornais.

A autora “desvendou” histórias comuns e nos apresenta uma reportagem do comum, mas com relatos inacreditáveis!a_vida_que_ninguem_ve

“A vida que ninguém vê” é um livro que desperta muitos sentimentos no leitor: te sensibiliza com a “História de um olhar”; te inspira com “Eva contra as almas deformadas”; te indigna com “Depois da filha, Antonio sepultou a mulher”; te faz chorar com “Sinal fechado para Camila” e sorrir com “O gaúcho do cavalo de pau”.

O livro é uma homenagem àqueles que, de alguma maneira, vivem de forma extraordinária, às margens da sociedade, lutando para sobreviver, buscando conquistar seus sonhos e fazendo de cada dia um momento especial. É também uma aula sobre jornalismo-sociológico e comportamento humano porque apresenta as situações simples e perturbadoras do cotidiano.

 

É tudo verdade. Da primeira à última linha, todas as palavras foram ditas, todos os sentimentos vividos. “A vida que ninguém vê” é o resultado da busca de uma repórter pela notícia que não estava no jornal. Os textos são reportagens pautadas pelo exercício de um olhar atento aos pequenos acontecimentos, ao que se passa na existência das pessoas desconhecidas. É a trajetória de uma repórter em busca do extraordinário em cada vida – só aparentemente – ordinária. É o avesso do jornalismo padrão.  (Sinopse)

A autora leva a risca o conceito de que “a notícia está em todo lugar”. Mas é preciso ter um olhar apurado para identificá-la e contá-la. E isso Eliane Brum tem de sobra!

Além de ser uma jornalista premiadíssima e documentarista talentosa. É também uma observadora da vida real e escritora empática e sagaz. Sou suspeita porque admiro muito o trabalho dessa escritora que tem o dom de tornar visível o que muitos não enxergam. Tenho saudades da sua coluna no portal da revista Época. Ainda bem que posso lê-la no El País.

As crônicas reportagens reunidas neste livro “A vida que ninguém vê” foram publicadas em 1999, na coluna de mesmo nome. Os textos saíam todos os sábados no jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Foram um sucesso tão grande que Eliane Brum mereceu o Prêmio Esso Regional daquele ano. Os leitores escreviam contando que, ao ler sobre a vida anônima de outro, descobriram que sua própria vida era especial. “Tudo mudou”, diziam. (Sinopse)

Um retrato do livro

Lançada pela Arquipélago Editorial com 208 páginas que reúnem as 21 melhores histórias apuradas pela jornalista, a obra literária tem uma linguagem fluída, coloquial e um regionalismo típico do Sul, mas precisamente de Porto Alegre. A autora não criou a reportagem crônica, mas, com certeza, deu um ar intenso e intrigante ao gênero denominado “crônicas da vida real”.

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“A vida que ninguém vê” apresenta textos autorais profundos que nos fazem pensar sobre a vida e a força que move esses personagens. O livro é composto por:

  • Prefácio
    • A vida que ninguém vê como eu a vi – Marcelo Rech
  • A vida que ninguém vê
    • Histórias de um olhar
    • Adail quer voar
    • Enterro de pobre
    • Um certo Geppe Coppini
    • O colecionador das almas sobradas
    • O cativeiro
    • O sapo
    • O conde decaído
    • O menino do alto
    • O chorador
    • O encantador de cavalos
    • O gaúcho do cavalo de pau
    • O exílio
    • A voz
    • Sinal fechado para Camila
    • Dona Maria tem olhos brilhantes
    • O doce velhinho dos comerciais
    • O homem que come vidro
    • O álbum
  • O dia seguinte
    • Depois da filha, Antonio sepultou a mulher
    • O dia em que Adail voou
  • Posfácio – Ricardo Kotscho
    • Humanos anônimos
  • Sobre a melhor profissão do mundo
    • O olhar insubordinado
  • Agradecimentos
  • Crédito das imagens

Eliane Brum não foge do apurado rigor e olhar jornalístico-sociológico que lhe é peculiar ao narrar a realidade do “mendigo que jamais pediu coisa alguma; do carregador de malas do aeroporto que nunca voou; do macaco que ao fugir da jaula foi ao bar beber uma cerveja; do doce velhinho dos comerciais que é também uma vítima do holocausto ou do homem que comia vidro, mas só se machucava com a invisibilidade”.

 

“Eva é mulher, negra e pobre. Eva treme as mãos. Tudo isso até aceitam. O que não lhe perdoam é ter se recusado a ser coitada. O que não perdoam a Eva é, sendo mulher, negra, pobre, e deficiente física, ter completado a universidade. E neste país. Todas as fichas eram contra ela e, ainda assim, Eva ousou vencer a aposta. Por isso a condenaram.” (pg. 101)

a_vida_que_ninguem_ve3É uma obra que precisa e merece ser lida, principalmente por jornalistas. Isso porque somos transportados para o tempo e espaço da história contada. “A vida que ninguém vê” tem um tom visceral, comovente, convidativo e que apresenta o outro como a gente pouco vê.

O que eu aprendi com “A vida que ninguém vê” foi manter um olhar mais atento e apurado para os “comuns” que transitam pela minha vida: pessoas comuns, situações comuns, lugares comuns… os comuns do cotidiano que, muitas vezes, passam despercebidos, apesar de serem repletos de significados especiais.

Ao lançar um olhar apurado sobre o cotidiano de uma sociedade automatizada, embrutecida e que não tem tempo para ouvir, entender, perceber ou acolher o outro, acabamos por desvendar algo a respeito do desconhecido e descobrimos também algo sobre nós mesmos.

Vale destacar que Eliane Brum tem no seu currículo os livros “Uma Duas”, “Coluna Prestes – O avesso da lenda”, “O olho da rua – uma repórter em busca da literatura da vida real” e “A menina quebrada”.

Informações Técnicas

Título: A Vida Que Ninguém Vê

Autora: Eliane Brum

Número de Páginas: 208 páginas

Editora: Arquipélago Editorial

Avaliação: Ótimo

 


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