O recente levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), com base nas eleições ocorridas em 5 de outubro passado, concluiu que a bancada sindical perdeu força na Câmara dos Deputados. Isso significa menos deputados federais para defender os projetos da classe trabalhadora e levar adiante as demandas dos “operários”.
Diante desse quadro, os principais desafios do novo sindicalismo são a organização e união da categoria e o fortalecimento da luta da classe trabalhadora. Esses caminhos têm por objetivo a defesa e valorização do trabalho.
Na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em junho de 2010, as centrais sindicais – organismos máximos de aglutinação dos trabalhadores – se reuniram em torno do manifesto “Pelo Desenvolvimento com Soberania, Democracia e Valorização do Trabalho”. E para garantir a implementação do projeto nacional de desenvolvimento político-socioeconômico defendido pelas centrais na Conclat, muitos trabalhadores e suas entidades sindicais têm enfrentado bravamente os vários problemas sociais, econômicos e trabalhistas frutos das políticas neoliberais que investem massivamente na: flexibilização das leis trabalhistas, exaltação sem controle da competição em todos os níveis do trabalho, instabilidade e precarização das relações e das condições de trabalho, desregulamentação do mercado trabalhista, no assédio moral e trabalho escravo ou infantil, nos ataques e restrições à ação sindical etc.
Para enfrentar esses e outros problemas é necessário reorganizar a estrutura sindical brasileira. Assim como o capitalismo se reinventa e surge travestido de “novas ideias e propostas” é fundamental que os militantes sindicais estejam preparados para novas abordagens. Acredito que isso só é possível com o investimento constante em ações de formação e organização de base. Felizmente tem crescido, mesmo que timidamente, o número de sindicatos que estão apostando na Formação Sindical, garantindo inclusive, através de departamento, coordenação ou núcleo, uma estrutura mínima para a formação de seus dirigentes e da base.

Questionada sobre a importância de constituir um departamento de formação sindical, a diretora do Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Sinpro) e da Associação dos Professores da PUC-Campinas (Apropucc) e professora do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES), Liliana Aparecida de Lima, defende que “o departamento de formação é crucial porque a partir dele é que se destaca um diretor que está pensando exclusivamente na formação e em iniciativas para continuar formando os dirigentes sindicais e os funcionários do sindicato, que devem ser funcionários também politicamente diferenciados. E também pensar uma formação mais ampla no sentido da solidariedade da classe trabalhadora. Não é só formar a sua categoria ou a sua base, mas também envolver os trabalhadores na nossa luta que é mais geral”.
A funcionária pública da Unicamp, Christiane Guimarães Russo acredita que uma das tarefas da entidade é proporcionar aos trabalhadores da base a formação para a militância sindical com objetivo de ajudá-los a compreender como o sindicato funciona. “A formação sindical dá a oportunidade de fazermos análises internas. É por meio desse processo que o sindicato, como entidade, faz uma análise interna para facilitar as medidas e metas que tem que estabelecer, refletindo sobre o rumo a ser tomado, o que traz bastante confiança pra base que percebe uma organização melhor para se trabalhar”, explica Christiane que participou do curso do CES sob indicação do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU).
Para a classe trabalhadora a formação sindical é importante porque permite um debate aberto sobre a concepção, estrutura e prática sindical, além de potencializar a organização e ações da entidade.
Formação sindical contribui para o processo de consciência da classe trabalhadora
A formação sindical dá condições para a atuação das lideranças e militantes por meio da abordagem de conteúdos que contribuam para o entendimento de como funciona a sociedade e quais os elementos que permeiam a luta de classes rumo ao país que queremos. Além de propor, através da organização da categoria, as ações sindicais necessárias para criar uma agenda positiva comprometida com a luta pela manutenção dos direitos e ampliação das conquistas.

Também é tarefa da formação sindical oferecer requisitos para uma gestão competente, eficaz e afinada com as necessidades da base. Por isso, ela deve ser voltada não só para lideranças sindicais, como também para trabalhadores da base e funcionários da entidade, como defende a professora Liliana.
Com objetivo de aprimorar minha prática – já que no momento “estou” dirigente sindical – participei de duas experiências promissoras proporcionadas pelas: Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Ambas oferecem projetos de formação sindical estruturados tanto para os trabalhadores urbano quanto os rurais.
As duas formações foram muito importantes para minha prática sindical e me possibilitaram trocar informações com sindicalistas de vários ramos. Foi realmente enriquecedor!
A CUT, por meio da Escola Sindical, oferece diversos temas de formação sindical. O principal curso é o de “Organização e Representação Sindical de Base” (ORSB) que visa potencializar a ação sindical no local de trabalho e fortalecer a intervenção dos cutistas nas diferentes disputas presentes na sociedade ampliando conhecimentos, melhorando a capacidade de intervenção e de transformação da realidade. Ela também se preocupa em oferecer formação para formadores, garantindo agentes multiplicadores das práticas oferecidas.

O Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) ligado à CTB também oferece muitos cursos, entre eles o de “Gestão Sindical”. O programa é voltado para dirigentes e assessores sindicais, funcionários das entidades e militantes que desejam aprofundar seus conhecimentos no que se refere à boa administração das entidades sindicais. Esse curso é oferecido em duas etapas e, segundo o CES, é fundamental para quem busca atingir seus fins estratégicos.

“O objetivo do CES com esse curso de Gestão Sindical é proporcionar que os sindicalistas que já estão na ativa, sejam no dia a dia do sindicato ou não, mas que pretendam dominar mais os temas ligados à Gestão Sindical, possam a vir se formar, debater essas questões, retornar para as suas entidades e envolver os demais diretores no sentido de qualificar mais as intervenções desses sindicalistas. Então a ideia é que a partir daqui os sindicalistas mais bem informados e formados possam influenciar e ter uma atuação mais qualificada na gestão do sindicato”, explica Liliana.
O funcionário público da Unicamp, Fanuel Vander Ananais, também participou do curso de formação do CES e acredita que “há um fortalecimento da base quando ela pode ter acesso a esse curso de formação que ajuda a ampliar o conhecimento, até mesmo para encaminhamentos e entendimentos da questão sindical”. Sobre seu interesse no tema, o servidor complementa: “eu me interessei pela formação sindical porque vejo a importância dela que é rica. Foi um curso que eu fiz que foi excelente, recomendaria para todos os trabalhadores porque isso me fez crescer”.
É fato que essas formações atendem uma demanda muito específica e urgente, já que contribuem para amenizar a atual crise de representação sindical muito presente no mundo do trabalho.
A servidora Christiane diz que o estudo é um processo fundamental porque “quando a gente vai se politizando, desperta o interesse pelo coletivo e a formação sindical pode ser um caminho de atuação”.
Felizmente, tem crescido o entendimento de que é necessário concentrar forças para formar e aperfeiçoar os instrumentos de luta dos trabalhadores. Sem contar que, para termos sucesso em nossas demandas, é imprescindível que o sindicalismo dialogue com todas as políticas sociais, não só as do mundo do trabalho, já que almejamos uma sociedade justa, solidária e igualitária.
Novo sindicalismo:
De acordo com a última Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) as propostas da agenda da classe trabalhadora estão organizadas em seis eixos, sendo:
- Crescimento com distribuição de renda e fortalecimento do mercado interno;
- Valorização do trabalho decente com igualdade e inclusão social;
- Estado como indutor do desenvolvimento socioeconômico e ambiental;
- Democracia com efetiva participação popular;
- Soberania e integração internacional;
- Direitos sindicais e Negociação Coletiva.
De acordo com o manifesto da Conclat “a inclusão social e valorização do trabalho decente são os pilares para que o Brasil se consolide como um país onde homens e mulheres, do campo e da cidade, trabalhem e vivam com qualidade e dignidade”.