A Feira de Produtos Orgânicos, de Agricultura Familiar e da Economia Solidária não é uma feira tradicional dessas montadas nas ruas com diversas barracas, feirantes agitados tentando convencer os consumidores no grito e com uma barraca de pastel disputadíssima.
A Feira de Produtos Orgânicos tem cara e jeito de roça. Ela fica no galpão do Armazém do Café, na antiga Estação Guanabara, e já na porta somos recebidos com sorriso largo e boas-vindas pela escolha de uma alternativa mais saudável. Alguns agricultores falam arrastado, são muito atenciosos, explicam como os produtos são produzidos e dão dicas de preparo para cada item; no espaço tem Música Popular Brasileira para distrair os clientes e no fundo do galpão têm pufes, livros, chá e café para incentivar boa prosa ou simplesmente um momento relaxante.
Sediada no Centro de Integração Social (CIS-Guanabara) a feira compõe a Rede de Agroecologia da Unicamp (RAU) através do Projeto “Sexta-feira na Estação”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ,), desde julho de 2011.
Seu objetivo é ajudar os agricultores a escoar a produção e incentivar o consumo sustentável através da aproximação do público com a agricultura orgânica e familiar. Participam do projeto cinco expositores de Economia Solidária, sendo dois de artesanato: bambu e cerâmica. Entre eles, Vila Yamaguishi e Irmãos Souza (Sítio Aparecida de Camanducaia), ambos de Jaguariúna e Associação de Mulheres Agroecológicas (AMA), de Mogi Mirim. E por traz de cada barraca há um coletivo responsável pelo cultivo dos produtos à venda, sendo assim, são dezenas de famílias atuando solidariamente.
Espaço de vivência e de promoção da saúde
Os produtos orgânicos são cultivados sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos ou qualquer substância sintética que possa contaminar o alimento ou o meio ambiente. Em sua produção é utilizada a compostagem orgânica, que consiste em estercos de animais, cinzas, restos de alimentos e materiais orgânicos, como podas de arvores, que processados se transformam em adubo natural. Além do controle biológico de pragas, através de biofertilizantes. Essa forma equilibrada de cultivo propicia um produto mais saudável e preserva a biodiversidade.
Para que o produto seja considerado orgânico ele precisa respeitar todas as normas e legislações de qualidade e relações sociais do setor e passar por processos de certificação obrigatórios, que vão desde a produção sustentável e equilibrada até o estabelecimento de relação de confiança entre produtores e consumidores.
Para produtores e consumidores um dos diferenciais dessa técnica é o sabor dos alimentos. A artista e publicitária, Fernanda Pupo, afirma que sempre procura produtos orgânicos porque faz uma grande diferença na alimentação e nos sabores “hoje com toda essa tecnologia na agricultura, às vezes você prova algum pêssego maravilhoso enorme, mas sem sabor nenhum. Você vê no produto orgânico que a cor, a textura e a aparência são completamente diferentes. Não é aquela coisa maravilhosa e enorme que só tem beleza, ao contrário, são muito saudáveis e saborosos”.
Para a bióloga e estagiária do CIS-Guanabara, Maria Angélica Lima, “há uma diferença gritante. Por exemplo, no tomate ela é perceptível pela grossura da casca porque o orgânico tem uma casca um pouco mais dura já o não orgânico é fácil de descascar”.
A agricultura orgânica está crescendo
O Brasil encontra-se entre os maiores produtores de orgânicos do mundo, conforme relatório The World Organic Agriculture, elaborado pelo Research Institute of Organic Agriculture (FIBL) e pela International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM). E, segundo dados do Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 4,93 milhões de hectares de área destinada ao cultivo de produtos orgânicos, cujas vendas estão concentradas em Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná e Pernambuco.
Para se ter uma ideia da força dessa agricultura, o mercado de alimentos orgânicos cresce cerca de 20% por ano e o número de estabelecimentos orgânicos apontados pelo Censo Agropecuário 2006 é de 90.497.
Por ser diferente do agronegócio o preço é relativamente maior, pois o produtor arca com o ônus da complexidade do plantio que incorpora preceitos ecológicos, econômicos e sociais de sustentabilidade.
Mesmo mais caro, o que motiva a publicitária a comprar produtos orgânicos é saúde e o combate às doenças. “A alimentação saudável é a primeira preocupação e depois é formar um novo raciocínio de vida e organizá-la pra isso. Então eu não uso muito sal, gosto do sabor da fruta e dos legumes e acredito que existe sim algo especial no produto natural, porque ele não teve veneno e não recebeu toxina nenhuma, ou seja, só através da natureza que eles conseguem que a lavoura não seja atacada e isso é ótimo”, justifica Fernanda.
Por isso, para os organizadores do projeto a feira é um espaço de vivência e de promoção da saúde humana, ambiental e social, onde campo e cidade voltam a se reconectar e a recuperar os saberes e sabores da natureza.
A Feira da Agricultura Familiar, de Economia Solidária e de Produtos Orgânicos acontece toda sexta-feira, das 16 às 19h, no CIS-Guanabara, localizado na Rua Mário Siqueira, 829, Botafogo, em Campinas.