Nesta semana conversei com alguns amigos sobre os profissionais que trabalham 15, 20 ou 30 anos na mesma empresa e de como esses casos estão cada vez mais raros hoje em dia.
Nas décadas de 1950 e 1960 era muito comum um trabalhador entrar na empresa e se aposentar nela. Hoje e dia isso é pouco comum e até muitos consultores de Recursos Humanos (RH) dizem que é bom para um profissional ter experiências variadas em seu currículo, às vezes, muito mais do que ter longos anos de experiência numa única empresa ou numa única função. A diversidade de tarefas e responsabilidades realizadas enche os olhos dos recrutadores de RH.
Quando me deparo com um profissional com tantos anos de casa, imagino que aquela pessoa realmente encontrou uma profissão prazerosa, está realizado profissionalmente ou encontrou uma empresa que reconhece o seu talento. Também fico em dúvidas de como será possível construir uma carreira de muitos anos numa única empresa nos tempos atuais – onde impera a instabilidade do mercado de trabalho.
A verdade é que esse tal mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos. Não só as relações de trabalho como também os vínculos empregatícios. Houve um boom dos profissionais autônomos, médio empresário, microempresário, grande empresário, profissional associado, micro empreendedor individual, empreendedores, trabalhadores informais, entre outras formas de atuação profissional.
Diante dessa grande variedade de relações de trabalho a Revista Caros Amigos publicou no ano passado o caderno “Desenvolvimento do Trabalho – 50 profissões de futuro”. Anunciada como uma publicação que constitui um verdadeiro guia de serviço das ocupações mais procuradas atualmente ela conta com o patrocínio da Petrobras e do Governo Federal e, por isso, é possível encontrar neste caderno muitas atividades ligadas à área petrolífera, principalmente, diante dessa nova realidade do pré-sal.
Quando recebi o caderno fiquei interessada em saber o que mais o mercado irá exigir de nós e como devemos nos adequar à nova realidade do crescimento da informatização em várias áreas. Mas o que vi foram inúmeras profissões que variam entre engenharia e técnico de projetos com descrições da função e nível escolar exigido tudo mundo entrelaçado a uma única área: o Petróleo.
Confira as novas profissões do futuro segundo o guia:
Ensino para todos os gostos
O ponto positivo é que a publicação traz um grande apelo para a importância da formação adequada para cada área e ressalta que o papel da universidade é fundamental para criarmos profissionais capacitados para as novas exigências do mercado de trabalho.
Independente do que escolhermos como profissão, o caderno ressalta que são inúmeras as formas de capacitação dos profissionais: cursos técnicos ou profissionalizantes, ensino a distância (cursos técnicos, graduações e mestrados), graduações tecnológicas, bacharelados e licenciaturas (graduações), mestrados profissionalizantes ou acadêmicos etc.
Não entrarei na discussão sobre as universidades boas ou ruins ou sobre quais as melhores formas de ensino. O que posso recomendar é que, ao se matricular, o futuro profissional deve estar atento a escolha da universidade e buscar saber se o curso é autorizado e tem diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e, principalmente, se aquela forma de ensino se adequará às suas necessidades.
Jornalistas sofrem com as condições de trabalho precárias
Como jornalista não posso encerrar esse post sem fazer uma reflexão sobre o futuro do Jornalismo, dizer da necessidade de formação para o jornalista e falar como o cenário profissional nessa área é um dos piores possíveis. Há pesquisas que dizem que é uma das piores profissões para se trabalhar.
Em tempos de queda da “exigência” do diploma para formação do jornalista está cada vez mais difícil se manter no mercado profissional porque as grandes empresas de Comunicação estão, cada vez mais, pressionando os profissionais e desrespeitando seus direitos e, pior, contratando de forma irregular e contratando também pessoas que nada têm a ver com a profissão de jornalista – para exercer a tarefa de um profissional.
Primeiro quero dizer que SOU A FAVOR DO DIPLOMA! Não que ele seja garantia de um bom profissional, pois em qualquer profissão haverá profissionais bons e éticos e outros nem tanto, independente de diploma. Mas a formação acadêmica garante o acesso a uma série de informações e experiências que irão preparar o jornalista para realidade a ser enfrentada. Na faculdade o futuro jornalista aprende como lidar de forma ética e responsável com essa dita informação que se configura como um bem social.
E na esteira da pressão diária do exercício profissional, podemos não acreditar, mas a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) ainda está em vigor. E mesmo sendo ignorada pelos patrões e, principalmente, pelos barões da Comunicação, ela tem que ser respeitada.
Então, no campo do Jornalismo nos deparamos cotidianamente com a precarização do trabalho do jornalista de várias formas: através dos chamados “frilas fixos”, a troca do registro em carteira pela terceirização e “quarteirização”, as assessorias home offices e a pejotização. Ambos suprimem vários direitos trabalhistas.
Essa onda de transformar os jornalistas em Pessoa Jurídica (PJ) é uma das piores formas de precarização das relações trabalhistas e também a mais comum delas. Os PJ’s são profissionais contratados sem vínculo empregatício, mas que cumprem todos os compromissos de trabalhador contratado com carteira assinada: com jornada de trabalho, horário de entrada, de saída, de almoço; chefia imediata, entre outros ritos de um trabalhador celetista.
A empresa utiliza a forma de contratação PJ para economizar nos impostos e explorar o profissional, mas cobram dele as mesmas responsabilidades dos assalariados. Diferente do que estabelece a legislação que reconhece o PJ como uma empresa.
Temos também os “frilas fixos” que prestam serviços regulares para determinada empresa, mas também sem contratação regular.
Outro problema enfrentado pelos jornalistas são as difíceis estruturas encontradas nas assessorias home office. Os profissionais, que muitas vezes, não encontram recolocação no mercado de trabalho, “abrem” sua própria assessoria de Imprensa ou de Comunicação e correm atrás de clientes. Nesta busca eles oferecem todos os tipos de serviços possíveis e quando não conseguem dar conta das demandas, em alguns casos, terceirizam o trabalho, ou seja, é a terceirização que se transforma em quarteirização do trabalho.
Explico melhor o que quero dizer. Conheço inúmeros jornalistas que trabalhm home office e que contratam outros jornalistas, para determinadas situações, as vezes de forma precária para dar conta da demanda de serviço. Esse novo “vínculo empregatício” acaba se transformando na quarteirização do trabalho, já que a empresa contrata a assessoria – sendo uma forma de terceirizar os trabalhos de Comunicação da companhia – e a assessoria, por sua vez, contrata outro profissional para ajudar na demanda – estabelecendo a quarteirização do serviço.
É muito triste ver amigos jornalistas sendo explorados e, pior, amigos jornalistas explorando outros colegas porque o mercado se tornou uma terra sem lei. Terra onde o empresariado ganha as batalhas porque encontra quem se sujeita às situações precárias para pagar suas contas.
No caderno da Caros Amigos, o professor titular de Sociologia do Trabalho no IFCH/Unicamp, Ricardo Antunes explica em seu artigo “As desconstruções: do trabalho, sua nova morfologia e a era das rebeliões” que as tendências do mercado do trabalho são:
1) … incessante pressão para desregulamentar o trabalho e reduzir os direitos sociais dos trabalhadores;
2) Ampliação das práticas flexíveis de contratação da força de trabalho, sendo também freqüente tanto a ampliação do emprego formal como daquele pautado pela informalidade, movimento que também depende da expansão ou queda do crescimento econômico;
3) Aumento dos mecanismos de individualização das realizações de trabalho, com o objetivo de fraturar a coesão e os laços de solidariedade entre os trabalhadores;
4) Ampliação do ideário empresarial, em que os(as) trabalhadores(as) são “envolvidos” e “incentivados” a se tornarem “parceiros”, “sócios”, “colaboradores”, procurando desestruturar a solidariedade de classe e enfraquecer os sindicatos;
5) Ampliação do trabalho em domicilio e das chamadas “cooperativas de trabalho” responsáveis pela subcontratação, terceirização e precarização da força de trabalho.
Neste contexto, a união da classe trabalhadora em torno de propostas comuns – defesa dos direitos trabalhistas – e fortalecimento das instituições de defesa dos trabalhadores – sindicatos, centrais sindicais e federações – é fundamental para garantirmos nossos direitos e fazer frente ao empresariado brasileiro de forma mobilizada, unificada e forte.
O fato é que se continuarmos sendo explorados desse jeito ficará cada vez mais difícil nos mantermos por muitos anos numa única empresa, principalmente se você for jornalista.